Por Moisés Drant Júnior
Andando na calçada de Vila Isabel no Rio de Janeiro, eu vi que tinha notas musicais no chão, era como se eu escutasse a música, ainda que eu não soubesse qual era. Perguntei pra Maria “isso são partituras?” - por mais que era óbvio, eu gosto de perguntar coisas óbvias. Ela disse que sim, me explicou o que era aquele bairro na história do Rio, disse como cada lugar naquela cidade tem algo único e especial. Maria sem dúvida foi a melhor companhia que eu poderia ter para turistar no Rio de Janeiro, com suas risadas entusiastas que me fazia sorrir e admirar uma pessoa tão radiante, com tanta potência de vida. Pela aquelas vielas, sem saber para qual era a próxima direção que iríamos, sendo totalmente conduzido, logo eu, controlador nato, pensando como eu estava longe de casa que ouvi meu coração dizer por um segundo “eu quero muito”. Ele disse isso com uma voz baixa, num medo de ser grande coisa, em um tom nada infantil, isso ecoou por todo o meu corpo, até por que, quero muito o que? Claro, quando racionalizei um pouco e chegou na lei - superego pros íntimos, a culpa disse “mas você não pode/deve”.
Estou lendo um livro chamado “Talvez você deva conversar com alguém”, se eu não fizesse terapia com certeza pediria por uma indicação agora. No livro ela aborda planos para o futuro, não de maneira excessiva, mas justamente com equilíbrio, nessa geração onde todos tem fetiche em dizer que tem ansiedade, não se é comum dizer que existe uma forma sadável de pensar no futuro. Confesso não sou muito ansioso, ora outra até que sim, mas nada patológico. Lido bem quando o assunto é esperar, até por que eu e minha irmã sempre comentamos a respeito de como temos que esperar pra que certas coisas aconteçam com frequência. Sobre o passado, já não deixo pesar sobre os meus ombros como um dia pesou, na verdade olho com muita benevolência cada atitude trouxa que tive, fiz o que fiz pra me defender, pra sobreviver. E o meu futuro onde esta? Me fiz essa pergunta e ficou um silencio, esses silêncios que nos diz tanta coisa. Qual é meu relacionamento com o futuro? Pensei, talvez esteja engolido na minha grande vontade do muito, mas como diria minha antiga analista “dizer muito, fecha”. Geralmente pra não darmos muito detalhes de algo ou até mesmo não pensar sobre certas questões que nos trazem um desconforto, usamos uma única palavra pra fechar o assunto, e de certa forma resumir algo que não é nada simples.
Não é surpresa esse medo de almejar o futuro, até por que nunca foi desconhecido que sempre quis muito. Nos meus relacionamentos por exemplo, nunca aceitei pouco, nunca me dei pouco. Graças a Deus nunca foi necessário eu ter que me dar muito em um relacionamento eros, eles acabam antes de chegar nesse nível - estou rindo ou chorando? Por isso também não julgo essas pessoas que nos tratam com tanta indiferença após nós estarmos com elas nos seus momentos mais difíceis, em uma conversa com uma pessoa fora da curva ela disse “Amizade é um dom, nem todos tem esse presente”, pensei o quanto isso era triste essa verdade. O confuso é que é impossível pensar no futuro, sem pensar em nossos relacionamentos. Afinal, no que mais somos pegados se não em pessoas? Se não fosse assim, tantas pessoas não insistiriam por tanto tempo em relações toxicas, por que como sempre ninguém quer perder nada e ninguém. Talvez você não percebeu isso, até mesmo não concorde de inicio. Talvez devemos começar a pensar nisso pelo o fato de sempre estarmos tão atarefados perdendo o nosso descanso para estar em tudo, com todos e ainda sim se sentindo infelizes. Ir para o futuro talvez me faça perder aquilo que tenho aqui, logo penso, se estando presente tanta coisa já fica diluída, imagina se eu realizar as grandes coisas que eu quero. Se eu mudar de cidade? E se eu trabalhar muito e já não estiver tão disponível durante a semana? E se eu encontrar um amor que me faça se entregar tanto ao ponto de eu virar tudo o que mais critico, na verdade é justamente assim que não devemos olhar para o futuro. Nós não pensamos que nas inúmeras probabilidades que sempre trazemos, também podem vir coisas incríveis dali. Com uma outra perspectiva, hoje começo a olhar com um princípio, desejo no futuro muita paciência, fidelidade aos meus princípios, flexibilidade para os meus erros, amor para regar a minha fé, compaixão para resolver os problemas dos outros que me aparecer e determinação pra resolver os meus problemas, durante este percurso eu planejo a minha faculdade, as minhas viagens, os meus projetos, meu namoro, meu casamento, meus filhos pois caso venha dar errado ou certo, eu continuarei de pé e ainda que perdendo pessoas e lugares, sempre me deslocando para uma nova possibilidade de ser eu, não estarei me perdendo por faltas dessas características que tanto me faltaram no passado, e as vezes neste presente.