Unidade que oferecia refeições e banho será substituída por centro de referência em saúde mental, aberto 24h.
Por Richelson Xavier
Na manhã deste sábado (20), o prefeito de Anápolis, Márcio Corrêa (PL), concedeu entrevista coletiva para oficializar o fechamento do Centro Pop, unidade voltada para pessoas em situação de rua. O espaço oferecia refeições, itens básicos e banho, mas, segundo o prefeito, havia se transformado em um “ambiente favorável ao crime”. O anúncio, acompanhado de críticas ao Ministério Público e à política pública de assistência social, gerou forte repercussão.
Corrêa abriu sua fala afirmando que a assistência social continuará em Anápolis, mas de forma diferente. “Política pública tem que ter porta de saída, tem que emancipar. Não pode ser caridade social”, disse, ao justificar a mudança. Segundo ele, o local passará a abrigar um Centro de Referência em Saúde Mental, que começará a funcionar já na próxima semana, em regime de 24 horas, com 20 leitos e atendimento médico especializado.
O prefeito argumentou que o Centro Pop não cumpria seu papel de transformação social e, em vez disso, reforçava a dependência. Ele relatou casos de comerciantes oprimidos por furtos e usuários de drogas que utilizavam os serviços sem perspectiva de reinserção. “Aqui tinha até delivery para bandido. Marmitas eram levadas até traficantes que se escondiam em bueiros próximos”, afirmou. Corrêa disse ainda ter ouvido relatos de famílias que perderam o vínculo com parentes após estes passarem a frequentar o espaço.
Em defesa da decisão, o prefeito sustentou que cerca de 90% dos usuários do Centro Pop têm passagens pela polícia. “Por causa de 10%, vamos deixar 90% soltos, amedrontando a população?”, questionou. Para ele, é preciso estruturar políticas multidisciplinares, envolvendo saúde, assistência social e segurança pública, mas com foco na transformação e não na “acomodação do crime”.
A medida, porém, enfrenta resistência. O Ministério Público de Goiás ingressou com ação para impedir a extinção do serviço, argumentando que ele garante direitos básicos à população em situação de rua. O promotor Paulo Martorini afirmou que não se pode generalizar, dizendo que todo morador de rua é criminoso, assim como não se pode afirmar que todo político é corrupto. Ao responder, Corrêa rebateu: “Nem todo promotor é corrupto, mas aqui 90% é bandido. Sim, marginal, criminoso, ladrão”.
Corrêa insistiu que sua decisão não é pessoal, mas fruto de diálogo com a população. “Ando pela cidade dia e noite, vejo o nível da criminalidade e escuto os moradores. Não foi um desejo da minha cabeça, foi um sentimento coletivo”, disse. Ele garantiu que o município continuará a oferecer amparo a pessoas em situação de vulnerabilidade, sobretudo no combate à fome, mas de forma reestruturada. “Vamos ampliar o assistencialismo, mas com eficiência, medindo quantas vidas serão realmente transformadas”, concluiu.