O discurso de soberania está caindo por terra enquanto decisões internas rasgam a Constituição e colocam a democracia brasileira em xeque.
Por Glauber Erick
A narrativa do atual governo, de que o Brasil é um país soberano e independente, começa a desmoronar diante das evidências que o mundo já enxerga. Um exemplo claro é a recente sanção imposta pelos Estados Unidos a um ministro da Suprema Corte brasileira. Esse episódio expõe o paradoxo: enquanto se proclama a soberania nacional, atitudes internas rasgam essa soberania com decisões que desrespeitam a Constituição e enfraquecem os fundamentos democráticos do país.
A soberania do Brasil não pode ser apenas um discurso vazio. Ela exige respeito à Constituição, que é a Carta Magna responsável por garantir os direitos e deveres de toda a nação. Quando um ministro da mais alta corte, que deveria ser guardião das leis e da justiça, passa a desqualificar e reinterpretar a Constituição ao seu bel-prazer, a soberania do país é rasgada diante dos olhos de todos.
É uma vergonha dizer que o Brasil é soberano quando, em décadas de história, apenas um presidente não foi impichado ou preso. Isso escancara a fragilidade institucional de um país onde a impunidade e os interesses políticos prevalecem sobre a estabilidade democrática. Como falar em soberania, se os próprios líderes e representantes máximos da nação não conseguem concluir seus mandatos de forma íntegra e legítima?
Um dos fatos mais alarmantes, que demonstra o desespero e a bagunça em que se transformou o atual governo, é decretar a prisão de um homem que sequer foi condenado, ou seja, que ainda não teve provado em juízo ter cometido qualquer crime. Quem me conhece sabe que nunca fui um defensor cego do ex-presidente Bolsonaro. Pelo contrário, sempre critiquei diversos aspectos da sua gestão e atitudes, das falas impensadas às decisões equivocadas. Mas isso não pode ser confundido com o que está em curso hoje: uma perseguição política, um projeto de poder e retaliação por parte da atual gestão, que não mede esforços para aniquilar opositores e transformar o sistema judiciário em ferramenta de coerção.
Também é hipocrisia afirmar que o Brasil é soberano quando, na prática, vivemos um sistema onde os poderes não se equilibram. Após anos de uma democracia fragilizada, o presidencialismo vigente se confunde com um parlamentarismo de fachada, onde não está claro quem governa e quem fiscaliza. A harmonia entre os poderes, princípio básico do Estado Democrático de Direito, foi substituída por um cenário de desequilíbrio, onde apenas um poder, ou pior, uma única pessoa, decide de forma autoritária os rumos da nação.
Esse falso senso de justiça, desbalanceado e desconfigurado, ignora o que o povo brasileiro, o senso comum, entende como correto e legítimo. A vontade de um homem, travestida de decisão jurídica, se sobrepõe à vontade de milhões, ferindo a soberania nacional e implantando um projeto pessoal de poder.
Portanto, a soberania do Brasil está sendo rasgada, não por forças externas, mas por ações internas, de quem deveria protegê-la. É urgente resgatar o verdadeiro significado de soberania, onde a Constituição seja respeitada e a vontade popular volte a ser o pilar das decisões nacionais.