Por Moisés Drant Júnior
Apesar de tudo, eu sempre procuro lembrar que escolhi seguir um mestre maior que eu, ainda que ele tivesse sempre algo a dizer que poderia sanar todas as dúvidas, ele ouvia muito. Entre um coração partido, um plano que não deu certo, entre uma risada com os amigos antigos e os novos, uma conversa atenciosa com minha irmã, quando claro, não estou no Tik Tok, acima disso tudo existe algo maior, algo que inclusive é a raiz de todas essas coisas boas que me acontecem, e sim, incluindo o coração partido. Existe algo sendo gerado no meu coração que vai além da minha capacidade de colaborar com isso ou não. Mais ansioso do que nunca, totalmente aflito por pensar que terei que voltar a descobrir o que quero comer no cardápio, sem ter alguém com um gosto melhor que o meu, escolhendo por mim, aumentei muito o meu consumo em redes sociais. Nem tanto na parte de produzir conteúdo, apenas ali, como um vegetal, sendo consumido por aquele infinito feed, tentando eu não acessar as minhas angústias. Por um momento esqueço do mundo, quase que por segundos, esqueço de mim, mas a parte triste é ando esquecendo que existe algo maior que tudo isso, inclusive minhas perebas emocionais.
Caco Barcelos estava no Altas Horas - sou um homem “oldschool” apaixonado por TV aberta, ele estava dizendo que o segredo para se aprender com as pessoas e ter bons diálogos, é ouvir. Basta ouvir, por mais que isso é óbvio, ando numa fase que estou me explicando coisas óbvias para uma clareza melhor, além do fato que vivo em uma comunidade religiosa, preciso aprender com pessoas ou enlouqueço. Quando digo ouvir, quero dizer recepcionar cada palavra como alguém que tá colocando livros nas prateleiras da biblioteca. Estamos nessa era onde não paramos pra ouvir na intenção de entender o que o outro diz, mas pensar no que iremos responder e por isso só ouvimos a nós mesmo, uma mente totalmente egoísta sem espaço para o compreender o outro, a diferença do outro. Eu costumo dizer na análise “quando você para de dizer, eu ainda não paro de te ouvir, por isso eu vou ficar calado por uns minutos, recepcionando o que você acabou de falar”. O que me faz pensar o por que eu e minha ex não conseguimos nem ao menos nos dizer um “Oi”, comunicação era o nosso forte, é triste, mas não temos controle sobre essas coisas.
Essa semana eu tive que ouvir muito, tantos os outros, tanto eu - a minha consciência e meu incontrolável inconsciente, no último dia da semana, que pra alguns é primeiro, mas me desculpa, domingo pra mim é último dia da semana e serei negacionista apenas nisso - por que vacinas já, tive que ouvir ele, o Espírito Santo através da vida de alguém. Seja lá qual for a sua religião, gostaria de lembrar que Deus ainda continua a falar, ele sempre tentou estabelecer comunicação, logo, relacionamento com nós humanos, mas por algum motivo, relutamos para não ouvi-lo. Me perguntei durante a semana… se ainda me arrependia dos meus erros ou apenas pedia perdão por rotina, as vezes me pergunto se queremos realmente as respostas das perguntas que fazemos também, enfim, se eu queria ou não, tive a resposta, ontem, no último dia e nas últimas horas desse dia, eu ouvi: não. Infelizmente eu já não me arrependo dos meus erros com quem amo, tampouco com Deus. Não me leve a mal, não estou levantando nenhuma bandeira de moralismo que nos faz sentir culpa por estamos com tesão em alguém. Estou falando realmente daquela subjetividade no coração, daquele sentimento mais diabólico que existe, o egoísmo, daquele lugar onde ninguém de fato vê, ouve ou está. É você e você, e ainda que nos esquecemos, Deus também está lá enquanto estamos com todos esses sentidos aguçados.
Por que ser rápido a ouvir e lento para falar é algo tão necessário a aprendermos? Deve levar uma vida para conseguirmos, bem, eu até agora ainda não consegui. Por isso estou ouvindo tudo de novo, todas as minhas músicas favoritas novamente, repetindo as minhas playlist sem atualizar nenhuma. Relendo textos dos meus autores favoritos, revendo o documentário da profeta contemporânea Brene Brown, que mudou minha vida para sempre, pedindo para a minha irmã fazer todas as intervenções dela, perguntando para a minha melhor amiga sobre a análise dela, ouvindo a Marla no rolê pós culto, pois ainda que elas digam coisas novas, todas elas me levam de volta ao primórdios, ao lugar dá onde eu nunca deveria mover meus olhos de direção, ao maior que tudo isso. Talvez nós deveríamos ouvir mais? Se calar mais? enfim, apenas pensando alto.